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Isso é coisa da minha cabeça?

Na nossa prática diária, acompanhamos o caso do menino Charles. Ótimo aluno, bom filho e que, sem qualquer motivo, parou de andar. Foram mais de 4 anos na cadeira de rodas e uma extensiva e exaustiva, custosa e dolorosa investigação totalmente inconclusiva. Repentina e supreendentemente, como num passe de mágicas, a criança voltou a andar como se nada tivesse acontecido.  Foi um milagre?


O livro, publicado em 2015 – “Isso é coisa da sua cabeça” foi escrito por Suzanne O’ Sullivan, uma neurologista e neurofisiologista inglesa, que se especializou no atendimento a pacientes com transtornos psicogênicos.



São apresentadas histórias verdadeiras sobre doenças imaginárias, uma condição que atinge até 30% das pessoas que procuram assistência médica!


O livro é de fácil e instigante leitura, distribuída em menos de 10 capítulos, sendo oito capítulos, dedicados à descrição detalhada de casos reais, misteriosos e enigmáticos, demonstrando a íntima conexão entre a mente e o corpo.


A autora nos leva a uma viagem sobre os transtornos psicossomáticos, que começa com a citação de Galeno (150 d C) – “Embora eu estivesse convencido de que a mulher estava atormentada não por uma doença física, e sim por um problema emocional, ocorreu que, no momento exato em que a examinava, isso foi confirmado”.  

A palavra -  psicossomático -  se refere aos sintomas físicos que ocorrem por razões psicológicas. Os dois sintomas mais comuns são fadiga e dor, mas é impressionante o grau de incapacidade (paralisias como a do Charles), que podem resultar de uma doença psicossomática.  Quando prejudicam a nossa capacidade de funcionar podem ameaçar substancialmente a nossa saúde e impactar, do ponto de vista financeiro, o sistema de saúde, custando até 2 X mais, comparativamente aos que não apresentam tais sintomas. 


No Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o termo psicossomático não aparece, mas outros nomes como – transtorno somatoforme, transtorno de conversão, fatores psicológicos, etc. Um transtorno somatoforme, por exemplo é definido pela presença manifesta de sintomas (corporais) que causam sofrimento significativo e interrupção da vida normal.  Há uma aflição e uma ansiedade desproporcionais e uma energia excessiva gasta em preocupações com a saúde.


Num dos casos, estava -  Mattew – um produto da era digital. Ele tinha feito uma minuciosa pesquisa na Internet e estava totalmente convencido de que tinha esclerose múltipla. Sua família ficou à beira de um colapso nervoso e a sua esposa ficou furiosa, quando ele recebeu alta, sem um diagnóstico e nenhum tratamento, mesmo sem conseguir se movimentar. Infelizmente, nestas condições, os médicos têm que considerar todas as possibilidades e excluir doenças físicas antes do diagnóstico final, o que pode levar meses ou anos. Muitos pacientes acham difícil abandonar a doença física e, assim, perder toda a validação do seu sofrimento ao ter que consultar um psicólogo ou um psiquiatra. Mattew disse que o psiquiatra explicou que o sistema nervoso é como um computador, que o hardware estava intacto, os fios todos no lugar certo, mas que havia um problema no software, que impedia as pernas de receber as instruções para se movimentar.


Quanto mais tempo o paciente carregar um diagnóstico errado, pior será o prognóstico e qualquer sintoma induzido pelo estresse também piora se o sintoma for atribuído a uma causa orgânica. Nos tempos atuais, quando o diagnóstico de transtorno conversivo é feito de modo seguro, a probabilidade de uma doença orgânica está abaixo de 5%.


Se você acha que está com uma doença neurológica, mas tem dúvidas se pode ser coisa da sua cabeça, procure um profissional habilitado para descartar condições orgânicas, fazer o diagnóstico certo e encaminhar para o profissional adequado, o mais precocemente possível.

 

 

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